segunda-feira, 14 de novembro de 2011

É uma casa portuguesa... com toda a certeza

Bem, começo por assumir o meu fanatismo pelo programa "Casa dos Segredos" ou para os mais intelectuais "Secret Story" ou para os mais saudosistas "Big Brother com segredos". Gosto de ver o programa, o que querem fazer? Vá, admito que gosto muito da versatilidade da Teresa Guilherme mas a principal razão por ver a Casa dos (D)Segredos é que aquele programa é um verdadeiro estudo sociológico. Dava uma brilhante tese, querem apostar?

Vamos começar a desfiar os segredos, ups degredos. Então a Cátia não sabe o que é "África", não sabe pronunciar "recipiente", não sabe o que é um alpendre e mais umas quantas que fazem Portugal rir, a questão é perceber do que é que Portugal se ri, mas adiante... A Teresa acha que a capital da Turquia é Turquish porque ah e tal é uma doçaria maravilhosa. A Fanny é aquela portuguesa que gosta de enfeitar a testa de um suposto namorado que até assume que gosta de ganhar uns "trocos" com o crescimento do apetrecho. Mas mais, há tantas mais. Vamos a mais umas: A Susana diz que Angola tem como capital África. Voltemos à Cátia, esse túmulo de pérolas que têm enchido revistas das cusquice, diz mais uma: "Ah e tal um sinónimo é uma coisa contrária", diz que a capital do Paraguai é a Amazónia e quando lhe perguntam por que raio o frango tem tanto osso responde "Oh pá, atão se não tivesse tanto osso era um peixe". Bem, mas por falar em peixe não posso deixar de passar pela Susana, essa concorrente que tem um peito gigantesco mas "óh que humilde que eu sou" diz: "Oh Teresa, a televisão aumenta muito, isto não é assim tão grande", diz que não lhe apetece peixe, quer comer sushi. A Sónia, que era para mim a melhor concorrente do SS, questionou-se filosoficamente: "Então se a Igreja tem de evoluir porque é que as freiras não podem chegar a cardinais?" (atenção que ela dá aulas de História de Arte!!, e não, não é calinada minha!!). Ah o Carlos diz que os habitantes da Rússia se chamam "rissóis", maravilhoso, não é?

A Fanny diria que são "caneladas", mas cara Fanny isso vai o Ronaldo levar amanhã. São calinadas... A grande questão é perceber como é que estas criaturas de um país chamado Portugal têm 9, 12 ou até 15 anos de escolaridade. Pergunto-me como é que é possível continuarmos a formar pessoas com este grau de ignorância quando o que queríamos fazer era formar adultos, gente preparada para a vida. Aqui está a razão da Casa dos Segredos ser um verdadeiro estudo sociológico. A Cátia é a comédia... Mas a questão está na desgraça de um país que embora devastado pela crise económica se ri de outra crise: a crise do futuro, aquela da verdadeira formação cívica. O que anda esta gente a fazer na escola? Tendo em conta que vi no outro dia numa bela reportagem na TVI um aluno que estava no 8º ano que só sabia assinar o seu nome... acho que vi tudo para dizer que a instrução em Portugal é uma vergonha, e digo-o, repito-o, uma vergonha. Mas esta casa reflecte muito do que fomos fazendo ao longo dos anos, é uma verdadeira "Casa Portuguesa"... Venham mais Cátias, Fannys, Susanas, Marcos, porque o riso aparece, as audiências mostram-se, mas a ignorância também vende, e dá sucesso, ó lá se dá! (Um dia destes escrevo sobre esta selecção minuciosa dos concorrentes, dos "broncos", aos azeiteiros, passando pelos "estranhamente virgens, até à namorada confusa...). Ai que ricas audiências, não é, TVI?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

sons que nos levam a tantos caminhos

Estava a ouvir "Lusitana Paixão", enquanto vagueava pelos links obscuros do Facebook! Nao fazia nada, apenas ouvia. Melancólica, perturbante, reconfortante, maravilhosa. De seguida o aleatório sistema de músicas mete a tocar "You are not alone" de Michael Jackson. Esta música é daquelas eternas, ternas, que nos fazem pensar e lembrar que na dor não estaremos sozinhos, mais que não fosse (em caso de crença) estaríamos com um ser superior. Claro está que, como dizia Kennedy: "A vitória tem mil pais, a derrota é orfã". Mas a orfandade da derrota seria logo trocada por um mesquinho "coitadinho, perdeste!". Olhem, acabo de me lembrar da música dos ABBA: "The winner takes it all", aquela música que me faz gostar ainda dos ABBA (se é que é possível, porque esta música faz-me "descer à terra". Olhem e Zeca Afonso que cantava em "Vampiros": "eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada". Esperemos que apesar da música e da cançoneta, haja mínimo de seriedade neste pó-de-arroz de políticos que temos e que apesar de saber que "nao é desgraça ser pobre" ao menos que tenhamos aguma "casa portuguesa" com mais do que pão e vinho... e não cito os Tokio Hotel porque esses estão a controlar a nossa lista das compras. Apesar de concordar que não devia de haver "lugar para os filhos da mãe", a luta "camarada" essa não pde ser feita com nenhuma "alegria". Sendo assim só nos resta aceitar a triste sina cantada pela querida Amália. Isso e imaginarmos que somos "Heróis do Mar"! Adoro música!

terça-feira, 24 de maio de 2011

coisas e coisas

Há muito que não escrevo. Não me tem apetecido. Não interessa.
Bem, hoje estou naqueles dias em que me apetece escrever mas não me apetece escrever. Mas cá vai.

Ligo a TV: sondagens. Ligo o rádio: sondagens. Leio os jornais: sondagens. Também gostava que fizessem uma sondagem sobre mim. Aposto que iria descobrir coisas maravilhosas. Bem, já estou a imaginar: 48% dos inquiridos acham-te parvo. Eu acho parvas as sondagens. Mas como todas as coisas parvas não resisto a olhar para elas. Aliás acho que o ditado deveria mudar: o estudo do inquirido é o mais apetecido! Irrito-me saber que sai uma sondagem e eu não sei de nada! Lá está: há quem chame a isto falta de amor próprio. Mas as sondagens deixam-me assim!

E cansado de sondagens afirmo ainda que não acredito em nada do que dizem: ah, excepto o facto de dizerem que inquiriram pessoas, porque os números são por vezes tão adulterados que nem nos números acredito! Isto há lá coisa: então gosto tanto de sondagens mas não acredito nelas. Ai que aqui está uma coisa complexa. Tal como eu, de resto...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Vamos recordar e fazer viver o Bairro Alto... em sons!

Carolina Queluz, recorda o que eram as suas noites e em que se transformaram. Já foi a uma casa de Fados e dz que está a adorar a experiência de mudar de cenário musical. Uma entrevista a não perder, mesmo.









Tiago Marques respeita o património que o Fado representa contudo nunca frequentou uma casa de Fado. Está curioso e espera no futuro vir a entrar numa "Tasca do Chico" e até idealiza o que pode vir a encontrar. Refere que já é tempo de os jovens alterarem as suas saídas à noite.








Joana Canela conhece duas facetas do "Bairro". De dia, considera que se vive um dia nada igual ao do centro da cidade, até mesmo no comércio. De noite, vive as sensações da música "disco".









segunda-feira, 11 de abril de 2011

igualdade ou perigo? Eu voto: igualdade!

Adopção de crianças por parte de casais homossexuais

Portugal, no dia 17 de Maio deparou-se com o igual acesso ao casamento civil seja qual for a orientação sexual do cidadão. Com efeito, o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva promulgou, no referido dia, o diploma aprovado por maioria no Parlamento. Esta decisão presidencial poderá ser discutida e com certeza haverá diversas opiniões, posições, confrontos ou, simplesmente, convicções pessoais. O que é certo é que o diploma está aprovado.

Podendo casar, o próximo passo para os homossexuais será a busca do igual acesso à adopção. A constituição de família está prevista com o casamento civil e podendo ou não um homossexual ter um filho biológico aquele lutará pelo direito a adoptar, é esta a minha convicção. Neste assunto, as opiniões parecem estar a começar a soar. A adopção é, para os heterossexuais, um processo complexo e para finalmente terem o filho nos braços, necessitam de correr muito e lutar significativamente, ter muito estofo e paciência, coragem e capacidade de sofrer, pois o tempo de espera é tanto e a ansiedade é mais que muita. O tempo de “habituação” (chamemos-lhe assim) tanto para os pais em relação à criança adoptada, como para o adoptado face aos pais adoptivos é de seis meses.

O que é facto é que, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os artigos primeiro e sétimo são bastante claros: o primeiro artigo refere que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, dotados de voz e de consciência, devem agir uns com os outros em espírito de fraternidade. O sétimo artigo também não deixa dúvidas: todos são iguais perante a Lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da Lei. Todos têm direito a protecção igual, contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. O próprio texto constitucional português é bastante perceptível: ninguém deve ser discriminado em função da sua orientação sexual. Neste sentido, se os textos são teorias para serem colocadas em prática, e se foram redigidos para tornar a sociedade global, e a portuguesa em particular mais justas (porque caso contrário não eram aprovados), há que os pôr em prática, assumindo claramente o que estes transportam. Apesar de viverem com uma Constituição contra a discriminação, os portugueses não vêem com bons olhos a possibilidade de um casal gay adoptar uma criança institucionalizada: a 8 de Março de 2004, 54% dos inquiridos de uma sondagem do Público, mostravam-se contra, 29% defendiam a medida. A questão é simples: o clima de hostilidade face a esta “modernidade” nasceu na ideia de que um casal gay educaria o seu filho (porque é disso que se trata) no sentido da mesma orientação sexual. Este argumento é do mais falacioso que pode haver já que, seguindo a mesma ordem de ideias, um casal heterossexual nem sempre “consegue fazer um filho heterossexual”. A origem da homossexualidade não é consensual mas a educação não é um factor essencial para orientar sexualmente a criança.

O presidente da Comissão de Acompanhamento da Lei da Adopção afirmou que é preferível uma criança passar toda uma vida numa instituição “à infelicidade de ser educado por homossexuais”, porque irá interferir na sua sexualidade natural. Trata-se de mais uma afirmação bastante problemática. Ora, se o nosso país se quer aproximar dos países desenvolvidos, é importante focar que o Reino Unido (onde no passado mês de Abril, uma lésbica foi registada como pai de uma criança), a Holanda, a Suécia, a Dinamarca e os estados mais liberais dos Estados Unidos aprovam a adopção por parte dos homossexuais, no sentido de proporcionar a uma criança, uma família mais reduzida, onde lhe seja dada a atenção que merece, o amor que precisa e que os pais biológicos não lhe souberam, não puderam ou não quiseram dar. Estas leis são pelos direitos das crianças só e unicamente. Se muitas das instituições sociais são correctas para com as crianças, dão-lhes de comer, ensinam-lhes as regras básicas, vestem-nas, lavam-nas, ao fim ao cabo educam-nas, também as há que de humano têm muito pouco. Mas reconheçamos da mesma forma que o romantismo não pode imperar sempre, e qualquer pessoa saberá que nestas instituições não há um funcionário, ou freira ou até padre, por cada criança. Isto é um facto. Ser educado por uma família mais reduzida, repito, trará à criança o carinho que ela merece, a educação individual, que será colmatada na escola.

Na manifestação promovida pela organização “Cidadania e Casamento”- a tal plataforma que conseguiu as 90 mil assinaturas no sentido de realizar um referendo ao casamento homossexual - encabeçada por Isilda Pegado foi referido que os gays estão a acabar com a espécie humana. Mas este é outro argumento bastante curioso. Será que a espécie humana será só uma espécie de biliões de pessoas? Será só feita uma contabilização de números, como se cada pessoa não fosse importante e ela própria única? Será que ao promovermos a espécie humana não estamos também a promover o amor entre os humanos, a solidariedade entre eles, o clima de igualdade generalizado, o fim de discriminações sem sentido como esta que trato neste texto? Pois, se defender a espécie humana é só falar em números, então eu não pertenço à espécie humana, muito sinceramente… A grande questão é que não é por se permitir o casamento ou a adopção gay que se cessará a espécie humana e a razão é simples: ninguém é obrigado a casar com um indivíduo do seu sexo e, muito menos, a adoptar uma criança colocando-a numa família homossexual. Argumentar desta forma, é dizer a um gay ou lésbica para se juntar com um indivíduo do sexo oposto, tornando-o (a) infeliz, menosprezando-se, desta forma, o casamento dito “normal”, e não dignificando a adopção, já que não haverá clima familiar onde o amor e sobretudo o respeito imperem.

Mas acho curioso que sejam os que defendem a adopção exclusiva para heterossexuais – e que, portanto, digam que um indivíduo gay não tem competências para criar uma criança – que em muitos casos construam situações de violência, morte e suicídios. Os casos da pequena Maddie, da Joana Cipriano, do Hélio (encontrado morto aos cinco anos por deficiência alimentar prolongada), do Daniel (abusado sexualmente até à morte com cinco anos), de Fátima Letícia (sete semanas violada pelos pais com objectos e espancada na cabeça), demonstram bem que não é pela orientação sexual que se deve vedar o acesso a criar uma criança. Aliás, as Comissões de protecção de menores adiantaram que estes fenómenos de violência são transversais a todas as classes sociais, após terem saído notícias sobre o aumento dos casos de violência contra crianças de famílias ricas. Logo também não é pelo dinheiro que há em casa que se deve dificultar a educação de um filho. Aquilo que verdadeiramente deve ser tido em conta é a educação em si: os valores transmitidos, a não-violência sobre a criança, a capacidade de a alimentar e educar com valores que permitam no amanhã a esta criança ser uma pessoa integralmente bem formada. Não é, em minha opinião, nem o dinheiro, nem muito menos a orientação sexual que devem ser as barreiras colocadas a alguém no sentido de criar um filho.

Não sei se as pessoas que estão contra a adopção por parte de homossexuais saberão que em Portugal é possível um gay ou uma lésbica adoptarem uma criança. É verdade. A questão é se poderão ter um companheiro para ajudar a criá-la ou não. Tudo, porque quando heteros ou gays tentam adoptar, não lhes é perguntada a orientação sexual. É de facto curioso que a grande questão seja só a presença de mais uma pessoa na família… Na minha visão das coisas, a adopção é um momento que vale uma vida inteira; é o vínculo que, semelhante à filiação natural, mas independentemente dos laços de sangue, se estabelece legalmente entre duas pessoas. Se a lei permite que uma pessoa individualmente, homem ou mulher pode adoptar sozinha uma criança, desde que possua certos requisitos (empregado, a receber prestações sociais, condições de vida para criar uma criança, condições não só económicas mas também psicológicas e culturais), por que razão duas pessoas, com esses mesmos requisitos, podendo proporcionar uma boa qualidade de vida, uma elevada educação/formação inculcando valores positivos, fazer de uma criança um Homem não conseguem adoptar?… 

Se isto for cumprido, porque lhes é negada a adopção? No meu ponto de vista, a adopção por parte de casais homossexuais poderá ser a solução para o fim da triste lista negra de crianças que ninguém quer: pela cor, sexo, idade, por ser deficiente, etc, etc, etc… Os dados são muito simples: há 554 crianças que ninguém quer adoptar. E se a adopção se mantiver exclusiva para a orientação heterossexual, então, nesse caso, nada mudará. O alargamento deste processo aos homossexuais poderá trazer mais felicidade aos filhos, que muitos dos que defendem a família tradicional, simplesmente, ignoraram.

A vida está em risco para estas crianças, e não é pelo facto de poderem vir a ser criadas por homossexuais… é mesmo por não terem direito ao carinho que elas merecem e que não lhes é dado nas instituições onde o funcionário ou os poucos funcionários lhes dão um beijo de boa noite e lhes fazem uma festa na cara e já pensam que o carinho está dado. E esta é a realidade, são factos. Por mais que eu aceite a importância vital das instituições, não menosprezo (no mesmo sentido) a importância de um amor privado, de um carinho só para aquela criança. 

E nós temos mesmo que entender isto, para bem da criança e pelo fim do preconceito, do estigma, da desigualdade e da injustiça mais do que “anti natural”. Porque a Natureza não consiste só na reprodução: é que, lá diz o povo: parir é dor, criar é amor… E, como dizia Fernando Pessoa: “o melhor do Mundo são as crianças”. E criá-las, amá-las, deve ser o maior e mais nobre acto que alguém novo ou velho, homem ou mulher, alto ou baixo, gordo ou magro, heterossexual ou homossexual, pode experienciar…

terça-feira, 8 de março de 2011

os limites de um povo

Começo por desejar um óptimo dia da mulher para todas as mulheres que me lêem neste momento.

Mas escrevo para demonstrar o meu maior descontentamento pela vitória dos "Homens da Luta" no Festival da Canção 2011. Primeira razão: popularidade - a dupla Jel e Falâncio aparece em tudo o que é sítio e de um modo, nada engraçado diga-se, consegue fazer rir toda a gente que não tem mais nada que fazer senão rever-se em dois humoristas que, reforço: não tendo graça, fazem aquilo que muitos gostavam de fazer (acho que a ousadia e a coragem são duas características positivas neste grupo. O problema é a ousadia extrema).

Segundo ponto: este grupo desrespeitou anos e anos de história do Festival da Canção - um festival que promove a música portuguesa lá fora, a história de um povo, os seus valores, atitudes e formas de estar na vida, bem como os artistas, as vozes, os ícones... Nesta música vai muito pouco do que é ser português: alegria? Não me parece. Luta? Só se for interesseira, só se a luta fôr porque nos cortam aqui e ali e esquecemos toda a restante população. Capacidade de cantar? Não, nada ali foi mostrado. Ícones interessantes de se mostrar? Também não. Mais valores? Nenhum: aliás o número de vezes que a palavra "luta" foi repetida mete mesmo confusão.

Terceiro e último ponto: é um ultraje a todos os artistas de um antigamente que procuramos esquecer. É um ultraje para músicas tão lindas (em todos os aspectos) que tivemos em anteriores festivais. E não é uma questão de subjectividade. Não é. É uma questão de racionalidade e de dar valor às coisas. E o que estes senhores fizeram foi tudo menos valorizar algo muito simples: a música portuguesa. Dizia o Jel: "Portugal não é só Fado". Bem, antes ser só Fado do que esta música que nem estilo tem, nem popular se lhe pode chamar. Chamem-lhe tudo: representação da luta, representação de sentimentos de raiva, de contestação, não lhe chamem representação de um povo. Aquilo é tudo menos representação do povo português.

Eu não me revejo naquilo. E não é por se chamar "luta". É porque lutar é saber pensar, é conseguir racionalidade e é sobretudo respeitar. Mas, se este festival já nem de respeito abona, continuará assim por mais um ano... E outro e outro... Porque agora muitas "lutas se vão alevantar". Preparem-se porque esta palhaçada (desculpe quem gosta) vai continuar...

segunda-feira, 7 de março de 2011

o que não cabe nas estatísticas...

Antes que tudo dizer que sou totalmente a favor do uso de estatísticas, logo da realização do Censos. Mas que sejam verdadeiras estas estatísticas. Bem sei que há muitos dados que não entram nos números, porque não interessam, porque “são irrelevantes”, porque é cómodo, ou porque o Governo não gosta.

E um dos dados que não entra para estas estatísticas “super modernas” é o número de casas que não têm casa de banho (não se vai perguntar se a casa tem ou não casa de banho): a procura de branquear todos os casos de pobreza extrema que há neste Portugal é clarificada neste tópico. Mas não se fica por aqui: o número de pessoas a recibos verdes será incluído no número de trabalhadores por conta de outrém, logo o número de trabalhadores precários será claramente escondido. É realmente incrível que para estatísticas oficiais não entre a verdadeira realidade, aquela que a sra. Maria tem quando chega a casa e tem que urinar para um balde que depois deita no caixote do lixo; aquela que o Zé vive no seu posto de trabalho e nas contas para pagar. E esta realidade não entra nas estatísticas. Claro está que poderia ser (como eles adoram dizer) estatisticamente irrelevante o número de casas sem quartos de banho, mas essa irrelevância mostraria, sem dúvida e absolutamente, a nossa incapacidade de anular essas irrelevâncias.

E, a tentativa de colocar Portugal num palco super moderno e não admitir, frontalmente, o que temos é claramente de um país que ignora os anos de história que temos, as pessoas com capacidade empreendedora que temos e a heroicidade de alguns lusos que (infelizmente não ressuscitam). Ao invés colocamos nestes estudos tudo o que de mau temos: a ignorância, a insensibilidade, a desumanidade, a triste capacidade de não resolver problemas, o modernismo irresponsável…

Isto só continua com este Censos 2011 que vai fazer o que o senhor PM faz todos os dias: dizer que todos somos felizes e contentes; e isto durará até ao dia em que alguém se passe e através de uma multidão revoltada acabe com a “tolerância e pacificidade” de um povo que está farto de ser calado, humilhado, ignorado, enxovalhado.
E aí podemos dizer adeus a estatísticas irrelevantes porque essas até já nem farão falta. Valerá mais a força do povo aliada a uma capacidade de luta e de contestação que as estatísticas, por muito que se esforcem, não medem.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

uma geração de rascas (que estão à rasca)

Escrevo nervosamente este texto. Realmente escrever sobre uma geração como a minha, a seguinte e a que aí vem, é complexo. Muito complexo. Mas é fácil, ou não...

Bem, há que começar por dizer que esta geração é a mais bem preparada de sempre (academicamente) e sofre hora a hora a rejeição do tipo "ah és mestre nisto? então esquece, não dá". A entidade empregadora está cada vez mais decidida em nos barrar as portas. E porquê?
Primeira explicação: imoralidade de quem emprega;
Segunda explicação: Incapacidade de empregar muitas pessoas sobretudo com cursos superiores;
Terceira explicação: falta de conhecimento técnico por parte de muitos licenciados;
Quarta Explicação e a fundamental: Falta, muita falta de capacidade mobilizadora da geração "à rasca". E continuaremos assim "rascas" durante muito tempo. E aqui é que se deve fixar o ponto "p" desta matéria: os reformados sofrem cortes e cortes nas reformas.. onde estão os jovens? os desempregados continuam a receber misérias... ond estão os jovens? Pessoas com 40 anos na rua.. onde páram os jovens?

Seremos um movimento ou uma sociedade? Digam-me? Teremos capacidade de nos unir e protestar por aquele, o Zé, sim aquele que recebe uma porra de uma reforma de 200 euros e que vai pagar serviços médicos se não for urgente? Teremos nós humanidade de espírito para perceber que só todos juntos é que conseguiremos?

Desta forma somos mesmo "rascas" de humanidade "rascas" de solidariedade, "rascas" de conseguir perceber quem não é jovem, capacidade de olhar o outro, frontalidade e seremos prós em egoísmo, comodismo, orgulho, passividade quando não nos interessa, fracos de espírito, incapazes de ser os jovens no melhor sentido da palavra: pessoas novas, com sangue novo que permita renovar isto tudo. Agora, não se manifestem só por nós: há tanta, tanta gente que precisa ser representada.. E nós se não os representarmos também um dia não teremos representação. Somos mesmo rasca...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

recomeçar

Bem, fiquei em choque quando soube da morte de uma jovem, uma jovem (repito) de 15 anos em Viseu (quase 16 dizem alguns, não interessa!). Realmente ficamos estupefactos mas os mais novos também partem e isto chama-se vida. Claro está que o mais correcto ou como muitos chamam "lei da vida" é os mais velhos irem primeiro. Mas as regras têm excepções. Dirão que o que para já escrevi é demasiado "frio". E é, reconheço.
Mas quando reflicto melhor há que dizer uma simples palavra: aproveitar. Aproveitar tudo quanto nos é oferecido. Nós por cá queixamo-nos de tudo: é uma chuva forte que já é um temporal, é um sol de 30 graus e "ai quero o Inverno", é um autocarro perdido e "vou já dizer à direcção que o motorista foi mais cedo do que o que devia", o patrão pede uma hora extraordinária "ah e vou-me manifestar", não gosto daquela porque tem sardas e "sai-me daqui que és feia". Pá, aproveitem a vida. Todos temos direito a ela, logo temos mais é que a aproveitar, e isso é lógico, é a lógica da vida, se quiserem.

Nada mais fácil do que agradecer tudo o que temos: a família (por mais pequena que seja), os amigos (por mais chatices que tenhamos), a escola (por mais secante que seja o professor de Estatístico-Prática, sei lá), a chuva, o sol, a neve, os autocarros, os dias, as pessoas!
Não deixem nada por fazer em prol do outro: nem que seja dizer: "vais à papelaria? Não é preciso ires que eu imprimo por ti", "Não consegues fazer? Eu ajudo-te", "Então, força para a próxima consegues", ou simplesmente "Bom dia, então como estás amigo(a)?". É tão fácil sermos felizes. E, se algo acontecer estamos bem connosco porque enquanto quem partiu cá esteve fizemos de tudo, de tudo mesmo para que ele(a) se sentisse minimamente feliz. E a vida ela própria já nos prega partidas, quanto mais nós encarregarmo-nos nós de colocar obstáculos ao outro.

Força aos amigos e família, Deus ou algo de força superior vos ajudará. Mas, tudo se tornará mais simples, mais fácil se os que cá estamos nos ajudarmos uns aos outros. Era tudo tão mais interessante, não era?

Um dia respondam...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

tanto tempo depois

Estou de volta. E que volta que deu este país em menos de dois meses. Não, não me vou pôr aqui em tom saudosista (até porque esses temas não merecem saudade), mas estou sempre vigilante (não fosse esse o meu nome nesta blogosfera). Não me sinto um bloger, nunca senti, nem quero. Sou uma pessoa que aqui escreve o que sente e o que lhe deixa um nó na garganta.

Olhem por exemplo: repugna-me o caso da senhora que morreu e nove anos depois foi encontrada inumanamente. E porque é que foi descoberta? Porque o fisco decidiu leiloar a casa que a senhora falecida não conseguiu pagar porque a Ann Germain ainda não permite que os mortos paguem as contribuições. Ainda não se consegue fazer isso, mas quem sabe um dia... Mas agora a sério: é ridículo. A vertente cobradora e interesseira deste Estado nada social mostra-nos que claramente nós não somos pessoas somos números. Eu não sou o Carlos, a senhora da minha rua não é a D. Esmeralda, o Sr. Rui não é o senhor rui. Somos 3 indivíduos que por sinal têm diferenças etárias, de género. É só isso que interessa. E onde está a segurança social? Sim aquela coisa que era suposto proteger-nos até à morte qual anjo da guarda saído de S. Bento? Isto deixa-me assim, o que querem? Não dá para mais. Obrigado e até logo, mais um tema nascerá para conversa. E que seja um tema bom, sem pérolas à lá tuga!