Fonte: http://www.22places.de/cemiterio-dos-prazeres/ |
Hoje foi dia de visitar uma amiga. Há coisas que não se
conseguem explicar mas foi bom estar com ela. Bem sei que estamos sempre
juntos. Acredito que qualquer vitória por mais pequena que seja é um bocadinho
dela também, resulta da força que me dá. E também reconheço que as coisas não
têm corrido tão mal porque ela olha por mim lá em cima.
Mas hoje esta amiga faz anos de vida. Faz. Ela faz anos. E
fui dar-lhe os parabéns. Lá fui eu com uma flor na mão e numa cidade
absolutamente entristecida com a crise, quando se vê alguém com flores parece
que essa pessoa é obra dum ser qualquer extraterrestre.
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Há ligações que por mais que os anos passem nunca morrem.
Ambos sabemos que oito anos depois continuamos os mesmos amigos. Lembro-me de ela
andar sempre a dizer à minha mãe, “Olhe, olhe que o seu filho tinha jeitinho
para ir àqueles concursos na televisão. Leve-o lá!”. É que passávamos tardes e
tardes a jogar aos passatempos interactivos da televisão aqui há uns anos
valentes. Lembro-me de conversarmos sobre a escola: como é que eu andava, como
estavam as notas… E sendo eu fraco fraco fraco a Educação Física ela fazia
questão de me lembrar de um aluno ou aluna já nem sei bem que era bom a tudo
menos a Ginástica. Ahh como ali me sentia bem. O meu ego subia logo. Afinal eu não
era assim tao bom a tudo mas ao menos era comparado a alguém que o era. E esta
minha amiga era professora de Ginástica. Mais devia querer que fôssemos todos
excelentes à cadeira. Mas não, sabia dar palavra certa, no momento certo, à
pessoa certa, com aquela sabedoria e serenidade que não me lembro de ver em
mais ninguém. E falávamos de política, do Soares, do Sócrates, da importância
de votar. E sempre me ia alertando: tenta sempre fazer o melhor que podes em
tudo o que fazes.
E hoje, lá estive eu. Estes sítios são locais de grandes
lições de vida. Não gosto de estar ali muito tempo pelo facto de pensar que
muitos dos que ali estão faziam falta deste lado. E o número de jovens… tantos
túmulos com fotografias de rapazes e raparigas de vinte, trinta anos que já
partiram. Valerá à pena tanto ódio, tanta avareza, inveja, discriminação,
avareza, para todos terminarmos naquele ou noutro sítio igual?
Mas há ligações que a
morte física não apaga. Essas valem tudo. Depois da vida não se sabe bem o que
existe. Uns garantem tudo, outros asseguram que não há nada. Cada um tem as
suas crenças, sabe o que sente. Eu sei que há malta lá em cima que me ajuda
todos os dias a tentar ser melhor. É por isso que por mais coisas más que se
cometam cá em baixo, há sempre amigos lá no alto a levantar-me o astral. Os
que me fazem bem estão sempre comigo. Daí que acredite que o bem vai vencer
sempre o mal. Sempre, sempre, sempre.
Obrigado por tudo, D. Sílvia. Os amigos não morrem. Até sempre.
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