quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O dia em que um padre me chamou desequilibrado


A minha é a última. E a mim ninguém me impinge um modelo de família. Certo dia, na preparação para uma festa religiosa (sim, tenho 10 anos de catequese, mas catequese "boa" com debate de ideias livre e democrático), um padre, quando na altura se discutia a despenalização do aborto, referiu-se aos filhos que vivem e são criados com apenas um progenitor como "desequilibrados mentalmente", faltando-lhes o outro lado materno ou paterno. 

Admito que, para pessoas que passam a vida fechadas num seminário, a ideia de família seja a do pai, mãe, um filho e um cão para ajudar à harmonia total. Eu tinha 16 anos e levantei-me e saí da sala. Comigo, numa total acção solidária, vieram todos os meus amigos de catequese. O senhor, que deitava aquelas palavras com a máxima certeza, apercebeu-se que estava ali um "desequilibrado". 

Não me importei, sempre fui o que quis ser, por força da minha família, também. Sempre pensei por mim, nunca precisei de muletas. Hoje, com 22 anos não esperem que pense de outra forma. Família é amor, estabilidade, disciplina, rigor, carinho, admiração, orgulho de termos aqueles pais, aquelas mães, aquela mãe, aquele pai. Como diria Benjamim Franklin a verdadeira riqueza de uma família não está no sangue, nem no dinheiro, nem no género. Franklin precisava apenas de duas coisas para ter uma família rica na essência: "paz e harmonia". E no fundo nada, rigorosamente nada, mais importa.












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