António Joaquim Rodrigues
Ribeiro. Este nome não ajuda a identificar facilmente de que génio se trata.
Mas ele foi e é, ainda é, um dos nossos maiores nomes, um nome enorme da
cultura portuguesa. E quis o destino que, em Lisboa, no dia mais feliz daquela cidade,
se despedisse de vez do mundo dos mortais, ele que ganhou o estatuto de imortal. Para a música
ficou conhecido como António Variações mas quem gosta de se referir a ele
rapidamente atira com um simples Variações e toda a gente sabe quem é. Tal como
o Zeca ou o Paião. Há pessoas que por serem tão grandes basta referirmo-nos a
elas através de um dos nomes. Acontece o mesmo com Amália, a Piaf, o Sinatra. Variações
conquistou o seu espaço pela irreverência. Um cabeleireiro com uma voz
invulgarmente fantástica, compôs e deu voz às suas letras e arranjos. Barbeiro,
aliás, ele detestava ser chamado de cabeleireiro. E aos génios faz-se a
vontade, barbeiro, Sr. Variações. E deste génio conhecemos músicas como a
Canção do Engate, Estou Além, É p’ra Amanhã, Maria Albertina e tantas tantas
outras. Foi da mente genial de António Variações que saiu uma das mais belas
canções que se pode dedicar a uma mãe, no caso à sua, Deolinda de Jesus.
Variações, dizem todos os que o
conheceram de mais de perto, arrastava filas só para o ver a trabalhar na sua
outra vida, entre barbas e cabelos. A sua morte ainda hoje está envolvida num
enorme mistério. Aponta-se como causa da morte uma complicação respiratória
causada pelo vírus que na altura se atribuía a todos os que tinham
comportamentos sexuais “desviantes”. A causa de morte e a sexualidade de alguém
é irrelevante neste e noutros casos. É que a marca, a tal pegada que cada um de
nós deveria tentar deixar enquanto o coração insistir em bater, deve ser
o foco. Infelizmente não é e muitos preferem agarrar nestes aspectos e fazer
deles o ponto mais importante no percurso deste artista. Mas ele
conseguiu sempre lidar de bem com a vida: fugiu a preconceitos, a ideias feitas
e também por isso é um génio. Um génio bem avançado, demasiado avançado e
extraordinário para aquele Portugal e para aquela sociedade ainda a caminhar
para a modernidade.
É um dos mais controversos e por
isso mesmo um dos mais extraordinários artistas portugueses. Ele foi cantor,
compositor e o que a vida o deixou ser em 39 anos de vida. E foi a luz num
Portugal retrógrado dos anos 60 e 70. A imagem de Variações prova-o, com um
estilo irreverente, anos-luz à frente do que a maioria dos portugueses levava muito por força de uma época cinzenta e opressora. E mostrou que, quando há vontade, cada
um de nós pode ser autêntico. Ele foi-o e ainda hoje o lembramos por isso. Na
música e na vida que terminou a 13 de Junho de 1944.
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