sexta-feira, 13 de junho de 2014

13 de Junho, o dia dos génios: Variações, um artista irreverente num país apático

António Joaquim Rodrigues Ribeiro. Este nome não ajuda a identificar facilmente de que génio se trata. Mas ele foi e é, ainda é, um dos nossos maiores nomes, um nome enorme da cultura portuguesa. E quis o destino que, em Lisboa, no dia mais feliz daquela cidade, se despedisse de vez do mundo dos mortais, ele que ganhou o estatuto de imortal. Para a música ficou conhecido como António Variações mas quem gosta de se referir a ele rapidamente atira com um simples Variações e toda a gente sabe quem é. Tal como o Zeca ou o Paião. Há pessoas que por serem tão grandes basta referirmo-nos a elas através de um dos nomes. Acontece o mesmo com Amália, a Piaf, o Sinatra. Variações conquistou o seu espaço pela irreverência. Um cabeleireiro com uma voz invulgarmente fantástica, compôs e deu voz às suas letras e arranjos. Barbeiro, aliás, ele detestava ser chamado de cabeleireiro. E aos génios faz-se a vontade, barbeiro, Sr. Variações. E deste génio conhecemos músicas como a Canção do Engate, Estou Além, É p’ra Amanhã, Maria Albertina e tantas tantas outras. Foi da mente genial de António Variações que saiu uma das mais belas canções que se pode dedicar a uma mãe, no caso à sua, Deolinda de Jesus. 


Variações, dizem todos os que o conheceram de mais de perto, arrastava filas só para o ver a trabalhar na sua outra vida, entre barbas e cabelos. A sua morte ainda hoje está envolvida num enorme mistério. Aponta-se como causa da morte uma complicação respiratória causada pelo vírus que na altura se atribuía a todos os que tinham comportamentos sexuais “desviantes”. A causa de morte e a sexualidade de alguém é irrelevante neste e noutros casos. É que a marca, a tal pegada que cada um de nós deveria tentar deixar enquanto o coração insistir em bater, deve ser o foco. Infelizmente não é e muitos preferem agarrar nestes aspectos e fazer deles o ponto mais importante no percurso deste artista. Mas ele conseguiu sempre lidar de bem com a vida: fugiu a preconceitos, a ideias feitas e também por isso é um génio. Um génio bem avançado, demasiado avançado e extraordinário para aquele Portugal e para aquela sociedade ainda a caminhar para a modernidade. 


É um dos mais controversos e por isso mesmo um dos mais extraordinários artistas portugueses. Ele foi cantor, compositor e o que a vida o deixou ser em 39 anos de vida. E foi a luz num Portugal retrógrado dos anos 60 e 70. A imagem de Variações prova-o, com um estilo irreverente, anos-luz à frente do que a maioria dos portugueses levava muito por força de uma época cinzenta e opressora. E mostrou que, quando há vontade, cada um de nós pode ser autêntico. Ele foi-o e ainda hoje o lembramos por isso. Na música e na vida que terminou a 13 de Junho de 1944. 


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