Fui até ao Rossio, acreditei, juro que acreditei.
Confesso que caíram lágrimas no pós 2º golo dos EUA. Não quero acreditar no que nos aconteceu. Tanta gente, um país a clamar por vocês, a garra de uma nação inteira, um país mergulhado na crise, na merda da crise, e vocês eram a nossa estrelinha. Eram o ponto de esperança. Só vocês nos poderiam ter feito brilhar. Só vocês. E sabiam-no. Tinham essa consciência. Mas envergonharam um país já prostrado, caído, derrotado, vilipendiado, humilhado. Vocês eram a única força que tínhamos ainda. Eram o que nos restava. E um país inteiro acreditou em vocês.
Vi crianças a gritar pelo Ronaldo, a inocência deles quando o melhor do mundo tocava na bola era arrepiante. Arrepiava todos os que estávamos a vê-las naquele mundo encantado. Eles viveram uma história feliz, fizeram-lhes acreditar que era possível. Mas vocês não quiseram que a história continuasse. Humilharam-nos mais do que já estávamos, deram-nos a maior derrota possível: a de não lutar. Foi triste, triste, triste. Milhões de gargantas a gritarem por vocês, mãos magoadas de tantas palmas batidas, mulheres, crianças, mais velhos, vi famílias inteiras sentadas no chão, a acreditar, de cachecol em punho. Só vos peço uma coisa: saiam de cabeça erguida disto. Não nos humilhem mais. Estes "putos à solta" não podem ver mais uma vergonhosa exibição.
Foi terrível. Shame on you. Ronaldo... ó Ronaldo e o Rei, Ronaldo? E o Rei? Onde fica o Rei Eusébio nesta história? Será que ele não merecia mais? Que falta de entrega, que falta de raça, faltou tudo, Ronaldo. Porquê, capitão? Porque razão nos ofereceram mais esta triste facada no nosso orgulhoso patriotismo. Hoje, sou tão português como ontem e como serei amanhã. Há quem não saiba ainda bem o que é envergar as quinas que Eusébio, Coluna e tantos, tantos outros vestiram e honraram. Portugal continua. Triste, envergonhado, entristecido, achincalhado, vergado.
Mas vamos continuar. Afinal, há Camões, há Pessoa, há Saramago, há Amália, há Marceneiro, há Dulce Pontes, há Carlos do Carmo, há Paião, há Zeca, há tantos, tantos que me fazem ter orgulho de ser tão português quanto eles. Levantem a cabeça, por favor. E viva Portugal, sempre. SEMPRE!
O Império
(...)
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
(Fernando Pessoa, A Mensagem)
(Fernando Pessoa, A Mensagem)