quinta-feira, 22 de novembro de 2012
A solidão não mata mas mói...
Quando o gozo ultrapassa tudo (caso Anne Germain)
Que fim de dia mais fantástico!
O puto que tinha a mania de relatar jogos de futebol
Esta Lisboa que eu amo
De Lisboa levo tanto e guardarei tudo. Levo os sorrisos das gentes de Alfama, o verde de Monsanto, a doçura de Belém, os pregões da Ribeira, o amor ao Fado da Mouraria, a agitação do Bairro Alto, o "amarelo da Carris", a calmia tão boa de Benfica, a interculturalidade da Baixa, a arte sacra da Sé, os milagres de Santo António, o cheiro a sardinhas, a imensidão dos miradouros, a emoção e a glória do Estádio da Luz.
Parte de mim, velha Lisboa, repousará e vai ficar eternamente contigo. Ao ler Pessoa, ao ouvir Amália e Marceneiro, vais sentir sempre que estarei em pensamento contigo. Nesta ligação tão especial, tão vibrante nada em mim me fará esquecer-te. Hoje, a poucas horas de te deixar, consigo apenas dizer-te isto: Saudade.
E muito mais fica comigo. E contigo. E não vale a pena dizer. Nem consigo, aliás. É só nosso. Numquam oblivisci. Até um dia destes, quando o destino nos voltar a juntar..
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
A ingenuidade de uma criança na fraca liberdade de um país
Ouço Zeca Afonso, Grândola Vila Morena. Lembro-me de mim com 10 anos, na Escola Amarela. Era um mundo distante, não pertencia ao que vivo hoje. Literalmente naquela escola vivi num mundo à parte. Lembro-me da minha professora de História (e Geografia de Portugal), a professora Helena, que no 25 de Abril nos ensinou a história da revolução como se fosse um conto de fadas. E foi-o, de facto. A magia da mensagem que os capitães queriam mostrar parecia ainda mais bela contada pela professora Helena, e era ainda mais forte num ambiente de conto de fadas da escola onde fiz o meu 5º e 6º ano. Lembro-me de ouvirmos o "Somos Livres" e de imaginarmos que ia ser sempre assim, uma história fabulosa.
Depois crescemos. Fomos obrigados a isso. Mas na verdade não nos apetecia muito. Ok, falo por mim. Mas Zeca Afonso não podia faltar. Recordo-me de termos organizado um ciclo de conferências sobre "A vida antes de 1974". E pensávamos nós que tudo o que se fez daí para a frente foi belo, único, surpreendente, espectacular. Porque no fim de contas, bastava somar a mensagem da "Grândola" com os ideais destes capitães que padeceram na Guerra e resistiram a tudo. Ai como tudo era perfeito. Claro que questionávamos o que nos diziam. Mas a certeza com que falavam, calavam qualquer dúvida da nossa parte. Só a "Grândola" era a solução do nosso dilema.
Depois veio a Guerra no Iraque. Aí começamos a ter medo do Mundo que nos sobrevoava: olhávamos para o Céu e parece que me estou a ouvir: "É preciso ter cuidado com os passeios na rua, é que pode cair uma bomba". Que mistério.
Acordámos de vez para o Mundo algum tempo depois quando percebemos que afinal "Não somos livres", e que Grândola, essa vila, é submissa tal como todas as vilas, cidades e aldeias deste país à beira mar plantado, às regras da cidade da couve. É que isto de sermos livres e de termos um passado em que o fomos (há quem diga que nem após 25 de Abril o fomos verdadeiramente, mas não quero ser tão pessimista), deveria ter continuidade e hoje sermos também livres. Mas era preciso que os políticos que tivémos nos continuassem a dar uma ilusão de criança de que a liberdade é de todos e que todos somos iguais. Nesse caso, já não era só a ilusão de uma criança, era a realidade de um país.
Houve quem preferisse esbanjar, tirar-nos a liberdade, hoje resta-me com os meus 20 anos, continuar a ouvir Zeca, Adriano e Vitorino, achando que "somos livres, somos livres" e que na vida "O povo é quem mais ordena". Que pena Portugal... Não me deixaste sonhar. Nem a mim nem a uma geração de pessoas que te queriam mais solidário sobretudo mais humano. Ainda assim, somos livres de escrever. Valha-nos essa liberdade. Obrigado, Abril!