segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma cena triste, o palco desfeito

Hoje cheguei de viagem! Bem, aparte de ser horrivel a parte da confusão do metro, do chegar, da voz enervante da senhora a dizer "Compre o cartão viva viagem apenas nas máquinas de venda" e "Reutilize o cartºao viva viagem, poupa dinheiro e é amigo do ambiente..", fiquei ainda mais aparvalhado quando vi uma grande figura do nosso teatro, revista, enfim um artista daqueles (obviamente não vou referir nomes) no metro. A pessoa a quem me refiro estava triste, envelhecida, acabada, e mostrava um semblante mais carregado do que o habitual por estas bandas (em Lisboa é naturalíssimo ver pessoas "de trombas"). Mas não é de admirar. Figuras como aquela que hoje vi sentem todos os dias a toda a hora a miséria do reconhecimento artístico em Portugal.

Sim, eu sei que se deve dar lugar aos mais novos e que a vida é um ciclo que começa e tem que terminar, mas o fim vivido desta forma deve ser arrepiante. Ser e deixar de ser deve ser angustiante. Este artista que hoje vi no metro fez rir tanta e tanta gente, hoje chora para si. E não porque pensa que o público não o quer ver, chora sim porque sabe que há pessoas que não arranjam espaço na mísera grelha de tv, nos teatros que têm sempre tantos espectáculos por ocupar.. não há um espaço para este artista com "a" grande.

A vida é assim dir-me-ão vocês.. pois mas quando foi para (n)vos fazer rir, cá estava ele para o fazer.. Hoje sentimos saudade.. e a figura de Maria Dulce é a moldura desta cruel realidade: a partir dos 50 um actor ou actriz é lixo.. e vai arranjando "biscates" numa personagem que falta ocupar..

Tenho verdadeiramente nojo de um país que seja assim, mas o que vale é que isto já não se cura.. Já faz parte de nós: já n ão é defeito, é feitio. Mas é ridiculo, muitíssimo ridículo...

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