sábado, 23 de outubro de 2010

A minha querida D. Sílvia

Hoje estou triste. Faz quatro anos que partiu a D. Sílvia. Bem, decerto que não sabem quem era, nem importa muito explicar. O importante é que há quatro anos partiu.. Mas mais importante que isso há mais de quatro anos tive a sorte de a conhecer. É assim que gosto de pensar! Passávamos tardes a ver o “Quem quer ganha" na TVI e ela com aquele ar de quem queria alegrar um miúdo que até acertava nas respostas, dizia “havias de ir lá jogar, ganhavas logo”. Sentados num sofá naquela casa em Viseu discutíamos política, ela era socialista e afligia-se quando ouvia os números da abstenção! Era uma senhora activa e atenta ao que se passava. Tinha um grande defeito: não gostava do Benfica e dizia mesmo que de todos os clubes as pessoas do Benfica eram aquelas que lhe diziam menos, ah claro a não ser eu! É realmente bom conhecermos alguém com a sua genica. Morreu cedo! Hoje recordo-a com muita saudade, hoje recordo-a com muita alegria! Quatro anos passados não consigo esquecer aquele dia que recebemos um telefonema a dizer que tinha partido! A vida faz isto mas deu-me também o gosto de a ter conhecido.

Mais tarde vim a saber que deu aulas a uma professora minha. Dizia a minha professora que era uma senhora muito avançada para a época: era moderna num tempo cinzento. A minha querida D. Sílvia estava sempre a perguntar por tudo da escola, e ficava super feliz com o meu sucesso e dava-me conselhos quando algo não corria bem! Partiu quando entrei para o Liceu que foi só a parte escolar mais complicada da minha carreira académica. Mas eu acredito que há uma estrela que lá em cima está a ver-me e está a dizer segue o teu caminho porque te correrá bem. O seu optimismo faz aquela estrela ser mais brilhante que nenhuma outra. Há mais estrelas que me estão a guiar, mas a D. Sílvia está lá a torcer pelos meus estudos, tenho a certeza. Volvidos quatro anos não consigo deixar me lembrar do sorriso dela quando eu dizia que era péssimo (e fui e sempre serei) a Educação Física (precisamente a disciplina que ela leccionou), e ela com a sua forma de falar dizia: Ah deixa lá não é muito importante!

Importante foi sim tê-la conhecido, Obrigado vida, Obrigado Deus!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma cena triste, o palco desfeito

Hoje cheguei de viagem! Bem, aparte de ser horrivel a parte da confusão do metro, do chegar, da voz enervante da senhora a dizer "Compre o cartão viva viagem apenas nas máquinas de venda" e "Reutilize o cartºao viva viagem, poupa dinheiro e é amigo do ambiente..", fiquei ainda mais aparvalhado quando vi uma grande figura do nosso teatro, revista, enfim um artista daqueles (obviamente não vou referir nomes) no metro. A pessoa a quem me refiro estava triste, envelhecida, acabada, e mostrava um semblante mais carregado do que o habitual por estas bandas (em Lisboa é naturalíssimo ver pessoas "de trombas"). Mas não é de admirar. Figuras como aquela que hoje vi sentem todos os dias a toda a hora a miséria do reconhecimento artístico em Portugal.

Sim, eu sei que se deve dar lugar aos mais novos e que a vida é um ciclo que começa e tem que terminar, mas o fim vivido desta forma deve ser arrepiante. Ser e deixar de ser deve ser angustiante. Este artista que hoje vi no metro fez rir tanta e tanta gente, hoje chora para si. E não porque pensa que o público não o quer ver, chora sim porque sabe que há pessoas que não arranjam espaço na mísera grelha de tv, nos teatros que têm sempre tantos espectáculos por ocupar.. não há um espaço para este artista com "a" grande.

A vida é assim dir-me-ão vocês.. pois mas quando foi para (n)vos fazer rir, cá estava ele para o fazer.. Hoje sentimos saudade.. e a figura de Maria Dulce é a moldura desta cruel realidade: a partir dos 50 um actor ou actriz é lixo.. e vai arranjando "biscates" numa personagem que falta ocupar..

Tenho verdadeiramente nojo de um país que seja assim, mas o que vale é que isto já não se cura.. Já faz parte de nós: já n ão é defeito, é feitio. Mas é ridiculo, muitíssimo ridículo...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

mais uma pincelada...

Bem, hoje estou naqueles dias.. o meu pc está demais. Bem, adiante..

A DGES enviou para algumas pessoas um maravilhoso SMS a comunicar o valor da bolsa de estudo que afinal não é o valor da bolsa. O que é que se passa então? Bom, para além de muitas dessas mensagens escritas terem sido enviadas às cinco da manhã (para comunicar desgraças estão sempre prontos, para dar boas notícias é que nem por isso..), a mensagem não diz tudo. E o valor que cada um receberá ficará só conhecido quando as faculdades adaptarem o modelo antigo de cálculo a este "modernérrimo" modelo publicado.. em julho. que data pertinente.. eu sinceramente acho isto uma palhaçada. E mal dos estudantes que precisam da bolsa! Parabéns Zézito, é mais um passo rumo ao sucesso. E viva a democracia portuguesa. E viva o numero de estudantes que entram a cada ano nas faculdades. E viva a igualdade.. Ai e viva a República!!

O que acontece é que vai ser dado o valor mínimo de bolsa de estudo (que corresponde a um décimo da propina, ou seja o valor mensal da propina anual (embora eu saiba que as propinas ou são logo pagas ou são em três prestações), a todos os bolseiros do ano lectivo anterior. Deste modo permite-se que os bolseiros consigam pagar a primeira prestação da propina. Esperava-se era um pouco mais de transparência porque imagine-se o que é receber uma sms a dizer: o valor da sua bolsa é de 98 euros! Realmente isto deveria ter sido mais bem explicado.
Recentemente li no Público essa informação e hoje no SAPO também se dava conta de manifs estudantis que foram aos governadores civis entregar "cheques" de 98 euros (uma acção simbólica)..

É portanto mais uma pincelada.. num quadro quase preenchido, falta o quase.. não é preciso esperar muito. Até tenho medo do que se vai seguir..

terça-feira, 12 de outubro de 2010

uma vida a morrer..

Ontem fiquei ainda mais perplexo comigo próprio: não me consigo definir pelo sim ou pelo não quando penso em "eutanásia". Ao ver a reportagem com "r" grande da jornalista( com "j" grande) Ana Leal estou ainda mais duvidoso mas tenho uma certeza: há que permitir a todos os doentes terminais um último direito que é morrer com dignidade, com o mínimo de dores.

Já fui a favor da eutanásia, aliás fui defendendo essa causa com unhas e dentes. Considerava que era um pleno direito da pessoa em estado considerado terminal, decidir se queria ou não morrer. Depois acabei por me pôr do lado dos profissionais de saúde: o quão deve ser difícil desligar "a máquina". Eles que dizem "sim" à vida até ao fim com dignidade.

Hoje estou inclinado para não dizer nada. Não me consigo colocar de lado algum. E espero que não se faça nenhum referendo sobre isto porque as pessoas não entendem estas questões como os profissionais de saúde as entendem. E com isto digo que esta é uma questão muito mais complexa do que a questão do aborto. O aborto sim devia ser referendado por uma verdadeira sociedade democrática. Aqui há mais contornos: em que casos se deve desligar a máquina? a família pode decidir? quantos anos depois de um coma profundo se deve terminar a "vida"? São questões só respondidas por profissionais de saúde, especialistas em ciência, religião..

A eutanásia urge ser discutida neste país. Mas mais do que a discutir a eutanásia é discutir a rede de cuidados paliativos. Hoje é ridiculamente curta. Precisávamos de cem centros de cuidados continuados. Temos 20! É sempre interessante numa sociedade democrática onde a saúde é para todos e para qualquer um, assistirmos a isto. Sim porque a democracia é também isto: é na vida e na morte. Não é só para votar que existe democracia.. E viva a República!...