domingo, 9 de fevereiro de 2014

O perigo do referendo suíço: que Humanidade queremos?



Prometo que deixarei de discutir a praxe por algum tempo, pelo menos até se saber mais conclusões sobre o sucedido no Meco. Independentemente de tudo o que se concluir não deixarei de pensar que aquele ritual obriga, persuade, estereotipa, subjuga, torna autoritários quem devia estar ao mesmo nível, e, passando a repetição “trocada”, desnivela a faculdade, ou melhor o espírito universitário, tornando-o, em vez de um palco de livre pensamento, num sítio onde a autoridade, a obediência, a subordinação e a cegueira de espírito reinam. Mas esse tema, como reflexo da sociedade actual, terá pano para mangas. Vamos falar do que aconteceu na Suíça e do grave precedente que pode agora ter sido dado.

Vejamos: os suíços foram chamados às urnas para decidir se as fronteiras começavam a ser fechadas. Basicamente foi isto. Em linguagem politicamente correcta, foram decidir, e decidiram pelo sim, uma forte (para não dizer rígida) regulação à entrada de novas pessoas vindas da comunidade europeia no país. Começa a assustar-me esta “boa nova” suíça. Não pelo país, não pelo resultado eleitoral (que ainda assim me deixa aliviado porque foi bem apertadinho…), assusta-me sim pelo precedente. Isto é perigoso. Mas as pessoas sabem pouco ou nada de História. Martin Gilbert, é apenas um dos historiadores que pinta o século XX com um genial traço, cheio de cor, de traçados claro-escuro, qualquer coisa genial. Mas há mais autores, lembro-me agora da Diplomacia do Kissinger e da Era dos Extremos do Hobsbawm. Três livros, três maneiras de contar. A História como sabemos tem a graça, e talvez daí advenha o seu sal, de proporcionar duas leituras de uma mesma realidade. Mas os regimes autoritários e controladores que o século XX conheceu parecem pouco ou nada passíveis de analisar isto sob duas perspectivas. 

Digo que o que ocorreu na Suíça é perigoso pelo simples facto de que outros regimes começaram assim. Excluindo judeus, ciganos, homossexuais, gente que não detinha uma determinada aparência, gente que pela sua invalidez não gerava riqueza. Foram eliminados. Em França há poucos anos também se expulsaram inúmeras comunidades ciganas. O estigma é sempre negativo. Aquela ideia de que todos os que vêm de fora conseguem “roubar” o emprego que há por cá. Aquele boato tão português de que aquela brasileira se meteu no casamento do Zé e da Maria e que destruiu o lar como se o Zé não preferisse o sotaque carioca e só do Brasil viesse o pecado, a tentação. Aquela ideia de que o cigano é aquele indivíduo que vive à conta do Estado, que nada faz, que sobrevive graças aos nossos impostos. Aquela ideia de que o chinês é o indivíduo que lucra e factura e trabalha quase nada (só está aberto quando as outras lojas decidem fechar…). São estereótipos, preconceitos se quisermos que podem tornar isto absolutamente perigoso. 
Enquanto a humanidade não entender que cada região tem um específico clima, uma específica forma de estar na vida mas que pertencemos todos a um mesmo Mundo isto jamais será um sítio pacífico. A um mesmo mundo proque ninguém decide onde nasce. E o dom da vida é exactamente aí que reside. É dessa beleza que vem a piada de estarmos cá. Se pensarmos bem ninguém de nós deciciu nascer em Portugal. Simplesmente nascemos. É basicamente como nascer mulher ou homem, sob o ponto de vista da nossa responsabilidade individual em decidir: ou seja é nenhuma, não decidimos. Portanto há que ver isto sob um outro prisma.

 O chinês tem tanto direito a pisar solo português, a viver em Portugal, como qualquer cidadão que por cá nasça. Portugal teve a sorte (nada mais que isso, porque não é obra do Homem, é divino, é sorte, destino, o que lhe queiram chamar) de ter um belo clima mediterrânico, grandes azeites, grandes vinhos. Teremos a coragem de vedar estas verdadeiras joias a todos os cidadãos que não são portugueses? Isto vai dar aquela canção que muitos consideram a maior utopia de sempre: “Imagine” do John Lennon. Para mim, definitivamente, viveríamos melhor. Não teriam acontecido as atrocidades que aconteceram. Não se diferenciavam pessoas pela cor, pela origem, pela religião, pela orientação sexual, pelo género. Isto seria um verdadeiro paraíso. É utópico, bem sei. Mas aqui também se pode aplicar aquela ideia tão velha mas tão simbólica e preciosa: “Deixa o Mundo um pouco melhor do que como o encontraste”. É isso. 

Termino com um verso de uma das minhas canções favoritas: “Irmão, se houver amor… a raça humana não tem cor”. Seríamos absolutamente mais felizes assim. Vamos ser diferentes e esquecer que um dia já houve quem tão mal fizesse a toda a humanidade. Porque matar judeus é matar um pouco de nós todos. A cultura de cada um apenas nos distingue, jamais deve ser o ponto de separação. Jamais nos deve colocar abaixo ou acima. E a razão é simples: é que tivemos a graça/infelicidade (de acordo com o ponto de vista de cada um) de nascer em Portugal. Porque teremos o direito quase básico de fazermos do nosso país um sítio exclusivamente nosso, reservado apenas e somente a todos os portugueses? 
Não será que a miscelânea cultural é absolutamente enriquecedora e necessária? O chinês é cidadão como eu e tu. Nem mais nem menos, é na igualdade que devemos colocar as coisas. Porque um mundo colorido a verde, amarelo, vermelho, preto, castanho, amarelo, branco… tem muito mais graça. Ou não tem? São caminhos e escolhas. Folheiem a História e pensem bem no que estamos a construir. Leiam, reflictam, decidam. Só assim seremos verdadeiramente livres e justos.

Sem comentários:

Enviar um comentário