Ontem escrevi isto no Twitter mas os 140 caracteres não me
deixaram descrever esta cena que dava para um qualquer filme do Manoel de
Oliveira tal foi a duração da mesma.
Imaginem uma rua de cidade do interior português (vá
aproveitando slogans políticos, no coração), 18:20h.
Duas jovens, bem
resolvidas, atravessam a rua de mãos dadas. Aqui entra o cenário. Num dos
passeios, precisamente aquele que as duas jovens percorriam, caminhava uma
senhora a caminhar para uma idade avançada (eufemismo…) que pé ante pé tentava
chegar a casa até porque estava a ficar frio, o frio que os viseenses sabem tão
bem sentir… Bem, as jovens, como disse acima estavam bem resolvidas com elas
mesmas e caminhavam livremente de mãos dadas numa cidade “velha”. A senhora
captou o momento e não largou mais o seu olhar daquela cena. Andava, olhava,
andava olhava. Ainda por cima como caminhava devagar permitiu olhar mesmo bem,
captar mesmo bem o melhor ângulo. E continuava a olhar. E olhava de novo. E
para não ter dúvidas tornava a olhar.
Na altura não percebi bem o que a senhora
tentava descortinar, talvez fosse que partes do corpo das jovens se tocavam: se
os anelares (Jesus, anelares não! Alianças?!), se os indicadores, se os mindinhos ou se as mãos no seu todo. Mas fixava bem o olhar, parecia que queria mesmo perceber se
aquilo era real ou se estava a sonhar com uma sociedade mais aberta e livre.
Quando se apercebeu de que era real olhou para o chão e deve ter pensado: “Pera
aí, Maria [é a lei das probabilidades, deve ser de certeza Maria], que isto não
é um sonho, é mesmo real. Duas moças tão bonitinhas, de mãos dadas… Parece impossível.”.
A senhora deve ter acordado do pesadelo quando um carro apitou entretanto
porque a senhora saiu do passeio e nem se deu conta de que já estava a caminhar
rumo ao outro lado da estrada de uma forma vagarosa e que complicava um
trânsito de fim de tarde de sexta-feira.
Pensei ir lá reconfortá-la. Apesar de tudo não estará
habituada a ver uma cena daquelas: uma cena tao simples, tao inocente, tão nada
chocante. Mas não estará. Sendo incrivelmente parecida com a senhora do “No meu
tempo” podia ter eu tido a lata de aproveitar essa parecença e dizer-lhe, “Pois é minha querida senhora, no seu tempo
não se via este outro gesto de amor, não era” e depois eu até sorriria para desdramatizar
a conversa, mas de forma menos estridente em relação à senhora do anúncio do
senhor Belmiro. E ela ia-me responder, “Amor?! Isto é amor?”.
Como pessoa simpática que sou… deixei ir a senhora em paz com as suas ideias. Afinal ela ficou na dela, não se pôs a fazer fitas nem grandes protestos. Às moças um conselho: lavem os braços e as mãos com muita água benta e procurem um bruxo porque estarão carregadinhas de mau-olhado. É que uma cidade inteira as avistou. E o amor causa inveja. Sejam felizes: as meninas, a senhora e um Mundo inteiro. Assim valerá a pena.
Como pessoa simpática que sou… deixei ir a senhora em paz com as suas ideias. Afinal ela ficou na dela, não se pôs a fazer fitas nem grandes protestos. Às moças um conselho: lavem os braços e as mãos com muita água benta e procurem um bruxo porque estarão carregadinhas de mau-olhado. É que uma cidade inteira as avistou. E o amor causa inveja. Sejam felizes: as meninas, a senhora e um Mundo inteiro. Assim valerá a pena.