terça-feira, 18 de maio de 2010

um país de pólos: os filhos de uns e os filhos de tal

Quando abrimos um jornal ou assistimos a um telejornal assistimos a dois polos: o pólo de uns e o pólo dos filhos de tal. Estão tão separados como o do Norte e o do Sul!

É constante ao folhearmos o jornal lermos histórias de um idoso que morreu por inalação de fumos, devido ao facto de estar sozinho todo o dia, é costume ouvir histórias de crianças que passam necessidades, que vão magras para a escola, que são marginalizadas..
Os mais velhos hoje são pessoas sem tudo: sem dinheiro muitas vezes para a conta nas farmácias, sem dinheiro para comer como ditam as regras, sem esperança, sem futuro à vista, sem Governos fortes e empenhados na defesa dos seus direitos. E têm ao mesmo tempo com tudo: têm desprezo, têm desolação, têm revolta... Ah e não têm outra coisa; voz, ou melhor não têm vontade de protestar, não têm também força para verem os seus desejos cumpridos, são pessoas ausentes da democracia porque a democracia lhes idsse "bye bye". Trata-se de pessoas cheias de instabilidade, de uma instabilidade estável, paradas em casa (a maioria), paradas no seu Mundo, ali ficam sós, desamparados, sem comer como deviam, ali ficam a definhar, esperando "que ela chegue", ela a morte obviamente. Sim, porque a reforma quando chega não traz grande felicidade para merecer uma espera: é muito curta para tão grandes encargos..

Ora e do outro lado da folha do jornal aparecem uns filhos de tal.. Chamam-lhes grandes gestores de empresas públicas. Grandes! Grandes porquê? Presumo que seja (e só pode ser isso) pela alta posição do seu cargo e pela importância da empresa. Porque grandes, lamento esses senhores não são. Grandes são aqueles que durante toda a vida trabalharam para nós e por nós e hoje injustamente não são apoiados na doença. Esses sim foram grandes e ainda hoje o são porque conseguem aguentar tal revolta..
Estes filhos de tal recebem tanto dinheiro porquê? Descobriram a cura da SIDA? Não, apenas descobriram como pôr uma empresa a dar lucro.. Claro que grande trabalho que isso dá.. Tantas horas a ler livros, o suor a cair da testa, que grande trabalheira. Pois e esses filhos de tal são hoje uns heróis porque, quais santos milagreiros, salvaram x empresa e x organização. Mas como é que isto é possível? Será que são esses senhores de tal que trabalham de sol-a-sol quase a reparar os postes de muito alta tensão? Será que são esses senhores que arriscam perder a vida ao tocar num fio no qual não deviam pôr o dedo (EDP)? Será que são esses senhores de tal que passam o dia a levantar os auscultadores a ouvir as reclamações penosas dos clientes sem telefone há quinze dias? Será que são esses senhores que estão ali junto dos clientes a ouvi-los, a acalmá-los? Não, nunca jamais em tempo algum! Esses senhores de tal são os heróis, os outros que trabalhem. Faz-me lembrar a História: ganhamos Aljubarrota! Quem foi o protagonista? Foi o Mestre de Avis que até tinha prometido à Virgem erguer um mosteiro. Claro.. até porque foi ele que aviou os espanhóis heroicamente.. Até porque foi o Mestre de Avis que arriscou a sua vida minuto a minuto, lutando pela Pátria.. A verdade é que os grandes heróis (neste caso os combatentes) são sempre os esquecidos - até se diz que dos fracos não reza a História, porque os fracos são aqueles que não aparecem, são os anónimos (os tais que fazem os conhecidos ganharem).

Somos um povo cheio de orgulho do nosso passado! Vivemos para ele: desde o Fado, ao D. Nuno Álvares passando pelo centenário da República, tudo o que é passado merece ser glorificado e tornado símbolo nacional. Não será que devemos olhar para o que temos hoje? Não será que devemos olhar para estes senhores de tal e fazer alguma coisa, como taxar-lhes uma boa parte do salário? Não será que devemos coroar estes mais velhos com uma merecida coroa olímpica cheia de honra? Pois, mas neste país só dos "grandes" é que reza a triste história de um povo cinzento e ignorante até..

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