Ó mãe, quem melhor para eu elogiar neste primeiro “Por que
gosto de…” do que tu. Deixar-te para último era uma injustiça até porque já lá
vão 60 figuras de que gosto especialmente e a lista ia alargar-se e o teu texto
haveria de ter que aparecer lá no meio dos outros. Ia perder significado.
Falar da minha mãe é das coisas mais complicadas que me
podem pedir mas o desafio desta nova rubrica no blogue também não é fácil, de
modo que vamos lá começar com a mais difícil. A minha mãe é a pessoa que mais
amo neste mundo. Podem dizer-me que quase todos dizem isso relativamente às suas mães. Sim, verdade. Até
porque mãe é mais do que quem dá à luz alguém. Mãe é quem está, quem ri
contigo, chora por ti, é quem te incentiva, quem te motiva, quem está sempre
certa numa sabedoria que à primeira vista não consegues alcançar mas um dia
vens a perceber. É como aquela história: o não da tua mãe já te livrou de
muitas situações complicadas e tu nem fazes ideia disso.
Sei que não sou a imagem e semelhança de um filho perfeito. Como se a perfeição fosse atingível. Só Deus o consegue ser. Não sou perfeito. Como todas as mães criaste expectativas sobre mim que por vezes não consegui satisfazer. Desiludi-te muitas vezes. Sei que não fui bom filho em muitas situações mas tentei, juro que tentei. E quando foi preciso tu lá estiveste. Incentivaste-me na minha ida até Lisboa estudar mesmo que soubesses que te ia custar, que nos ia custar. A distância, a saída de casa, o não estar ali 24 horas sobre 24 horas. Mas ultrapassámos. Agora chegou outro desafio que também vamos ultrapassar. E a vida de filho e mãe é esta: batalhar, batalhar, batalhar. Sei que vamos conseguir ultrapassar este e outros desafios que a vida nos colocou. Porque soubemos ultrapassar o maior: soubemos sempre viver até aqui um para o outro, numa relação de pertença, não apenas pelo sangue que obviamente nos une, mas pela ligação mágica que uma mãe e um filho constroem. E esse foi o teu mais importante gesto heroico: fizeste de mim um homem, criaste-me, sempre com inúmeras dificuldades. Mas cá estou. Cá estamos. Devo-te isso e vou dever-te sempre isso. A coragem de criares um filho sozinha. És a maior, vais sempre ser.
Somos completamente diferentes, temos visões do mundo muitas
vezes diametralmente opostas. Mas mãe e filho só têm que coincidir numa coisa
que ajuda a tornar as outras todas autênticos “peanuts”: amor incondicional
mútuo. E nisto, mãe, somos o ícone máximo. Correu sempre tudo bem? Não, nem
podia, não ia ter graça. Houve dificuldades? Houve, e ainda bem que houve
porque te tornaste a mais importante pessoa da vida de um ser humano: eu. Houve
momentos maus? Claro que sim, mas soubeste fintá-los num acto de verdadeiro
heroísmo. E depois de tudo isto, vieram os momentos mais felizes. E virão
muitos mais.
Se tenho medo que chegue o dia que vais partir? Sim, tenho.
Tenho muito. Quem nos vê na rua sabe que te costumo ajudar a caminhar para
evitar que caias. Tenho receio que no céu, o tal sítio que nos contam ser belo,
lindo, magnífico, espectacular, não te saibam acolher como mereces. Tenho medo
que o chão do céu tenha lá alguns obstáculos que não merecias ter que
ultrapassar. Tenho medo que caias por lá e eu não esteja lá para te puxar para
cima, para te agarrar e dizer, “Calma, mãe, foi só uma queda pequenina, já
ficas bem” ou então “Ó mãe, caiste mas já passou, vamos lá, eu ajudo-te a
levantar”. Tenho esse medo, o que queres que faça?
É que isto de ter medo é uma coisa natural. Como natural e
pura é a relação maternal. Sobretudo quando sei que fizeste tudo para eu hoje
estar aqui.
É que há mães, há excelentes
mães e depois existes tu: a melhor.