quarta-feira, 27 de agosto de 2014

(I) - Por que gosto de ti, mãe

Ó mãe, quem melhor para eu elogiar neste primeiro “Por que gosto de…” do que tu. Deixar-te para último era uma injustiça até porque já lá vão 60 figuras de que gosto especialmente e a lista ia alargar-se e o teu texto haveria de ter que aparecer lá no meio dos outros. Ia perder significado.

Falar da minha mãe é das coisas mais complicadas que me podem pedir mas o desafio desta nova rubrica no blogue também não é fácil, de modo que vamos lá começar com a mais difícil. A minha mãe é a pessoa que mais amo neste mundo. Podem dizer-me que quase todos dizem isso relativamente às suas mães. Sim, verdade. Até porque mãe é mais do que quem dá à luz alguém. Mãe é quem está, quem ri contigo, chora por ti, é quem te incentiva, quem te motiva, quem está sempre certa numa sabedoria que à primeira vista não consegues alcançar mas um dia vens a perceber. É como aquela história: o não da tua mãe já te livrou de muitas situações complicadas e tu nem fazes ideia disso. 


Sei que não sou a imagem e semelhança de um filho perfeito. Como se a perfeição fosse atingível. Só Deus o consegue ser. Não sou perfeito. Como todas as mães criaste expectativas sobre mim que por vezes não consegui satisfazer. Desiludi-te muitas vezes. Sei que não fui bom filho em muitas situações mas tentei, juro que tentei. E quando foi preciso tu lá estiveste. Incentivaste-me na minha ida até Lisboa estudar mesmo que soubesses que te ia custar, que nos ia custar. A distância, a saída de casa, o não estar ali 24 horas sobre 24 horas. Mas ultrapassámos. Agora chegou outro desafio que também vamos ultrapassar. E a vida de filho e mãe é esta: batalhar, batalhar, batalhar. Sei que vamos conseguir ultrapassar este e outros desafios que a vida nos colocou. Porque soubemos ultrapassar o maior: soubemos sempre viver até aqui um para o outro, numa relação de pertença, não apenas pelo sangue que obviamente nos une, mas pela ligação mágica que uma mãe e um filho constroem. E esse foi o teu mais importante gesto heroico: fizeste de mim um homem, criaste-me, sempre com inúmeras dificuldades. Mas cá estou. Cá estamos. Devo-te isso e vou dever-te sempre isso. A coragem de criares um filho sozinha. És a maior, vais sempre ser.

Somos completamente diferentes, temos visões do mundo muitas vezes diametralmente opostas. Mas mãe e filho só têm que coincidir numa coisa que ajuda a tornar as outras todas autênticos “peanuts”: amor incondicional mútuo. E nisto, mãe, somos o ícone máximo. Correu sempre tudo bem? Não, nem podia, não ia ter graça. Houve dificuldades? Houve, e ainda bem que houve porque te tornaste a mais importante pessoa da vida de um ser humano: eu. Houve momentos maus? Claro que sim, mas soubeste fintá-los num acto de verdadeiro heroísmo. E depois de tudo isto, vieram os momentos mais felizes. E virão muitos mais.

Se tenho medo que chegue o dia que vais partir? Sim, tenho. Tenho muito. Quem nos vê na rua sabe que te costumo ajudar a caminhar para evitar que caias. Tenho receio que no céu, o tal sítio que nos contam ser belo, lindo, magnífico, espectacular, não te saibam acolher como mereces. Tenho medo que o chão do céu tenha lá alguns obstáculos que não merecias ter que ultrapassar. Tenho medo que caias por lá e eu não esteja lá para te puxar para cima, para te agarrar e dizer, “Calma, mãe, foi só uma queda pequenina, já ficas bem” ou então “Ó mãe, caiste mas já passou, vamos lá, eu ajudo-te a levantar”. Tenho esse medo, o que queres que faça?



É que isto de ter medo é uma coisa natural. Como natural e pura é a relação maternal. Sobretudo quando sei que fizeste tudo para eu hoje estar aqui. 
É que há mães, há excelentes mães e depois existes tu: a melhor.