Acabo de ver um vídeo feito por não sei quem (nem quero que tenham nome, é só dar-lhes importância dizer quem são) a atirar umas boquitas parvas e absolutamente repugnantes a uma comitiva do Futebol Clube do Porto que saía do Estádio do Fontelo. Todos sabemos que o futebol é paixão, é sofrer, é viver, é sentir um clube e gostar dele, vibrar. Escusado será dizer que esse vídeo teve imensas partilhas a apoiar o que esses seres fizeram. E que essas partilhas tiveram um habitual comentário acima do vídeo com palavras de apoio e incentivo. Como se aquilo fosse arte, ou algo digno de ser partilhado.
Este sábado assisti ao Benfica – Sporting num café da zona e acusaram-me de ser fanático pelo meu clube. É público por qual dos clubes sofro. É público, e quem não souber siga em direcção aos gostos do Facebook, depois “Equipas desportivas” e, por certo, será fácil descobrir. Chamarem-me fanático é como dizerem que sou um déspota qualquer. Entendo que quem disse isto prefere assobiar para o lado quando se tenta explicar o que é ser fanático, prefiro acreditar que acha "fanático" uma palavra que soa bem e é interessante. Não é. Ser fanático é adorar este vídeo. Ser fanático é partilhar este vídeo com uma palavrazita de apoio a estes vândalos. Ser fanático é matar alguém a ver futebol, num estádio ou num café. Ser fanático é ofender gratuitamente a honra pessoal de alguém só por se ser de um clube, como se os membros de um qualquer clube fosse significado de pertença a uma “raça” diferente, a um nicho do qual ninguém quer fazer parte. O fanatismo deu lugar às maiores atrocidades da História, pelo fanatismo mataram-se milhões de pessoas, já houve o fanatismo religioso, o fanatismo político, ainda persistem outros fanatismos. Eu não sou fanático de nada. Prefiro amar um clube, distanciar-me qb de um partido político, viver qb numa religião. Tento estar sempre atento ao que se faz por aí. Prefiro amar a vida. E não perder tempo com ódios injustificados e construídos sob mitos... Puros mitos.
A fronteira entre o fanatismo e ódio gratuito é tão ténue como a distância entre gritar alto e bom som que a mãe do adepto do lado tem uma vida pouco condizente com a moral e os bons costumes. É tão ténue como gritar aos sete ventos que aquela pessoa tem o fraco hábito de se lavar. É tão ténue como gritar que a esposa daquele adepto vive uma vida dupla sem ele próprio saber. É tão ténue como vociferar que aquele ou aquela vivem numa relação com outro ou outra, respectivamente. É tão ténue. Mas tão ténue. E isto não é picardia. Picardia é diferente, é rir, não é ofender, é brincar, não é magoar. A história do futebol está cheia de páginas negras. Todos temos episodicamente memórias de gente que odeia o futebol. Quem diz isto e partilha isto mais do que gostar, odeia. E quem odeia perde o tempo que podia gastar a viver, amando um clube.
Podia mandar todos os que odeiam a um sítio. Seria fazer pior que eles. Prefiro usar a técnica da psicologia invertida. Odeiem que eu continuo a gostar, odeiem que eu continuo a festejar, mandem bocas que eu continuarei a aplaudir, digam os maiores impropérios, eu preferirei sempre dar um valente grito de “GOLO!”.