quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Eu, nada fanático, me confesso

Acabo de ver um vídeo feito por não sei quem (nem quero que tenham nome, é só dar-lhes importância dizer quem são) a atirar umas boquitas parvas e absolutamente repugnantes a uma comitiva do Futebol Clube do Porto que saía do Estádio do Fontelo. Todos sabemos que o futebol é paixão, é sofrer, é viver, é sentir um clube e gostar dele, vibrar. Escusado será dizer que esse vídeo teve imensas partilhas a apoiar o que esses seres fizeram. E que essas partilhas tiveram um habitual comentário acima do vídeo com palavras de apoio e incentivo. Como se aquilo fosse arte, ou algo digno de ser partilhado. 

Este sábado assisti ao Benfica – Sporting num café da zona e acusaram-me de ser fanático pelo meu clube. É público por qual dos clubes sofro. É público, e quem não souber siga em direcção aos gostos do Facebook, depois “Equipas desportivas” e, por certo, será fácil descobrir. Chamarem-me fanático é como dizerem que sou um déspota qualquer. Entendo que quem disse isto prefere assobiar para o lado quando se tenta explicar o que é ser fanático, prefiro acreditar que acha "fanático" uma palavra que soa bem e é interessante. Não é. Ser fanático é adorar este vídeo. Ser fanático é partilhar este vídeo com uma palavrazita de apoio a estes vândalos. Ser fanático é matar alguém a ver futebol, num estádio ou num café. Ser fanático é ofender gratuitamente a honra pessoal de alguém só por se ser de um clube, como se os membros de um qualquer clube fosse significado de pertença a uma “raça” diferente, a um nicho do qual ninguém quer fazer parte. O fanatismo deu lugar às maiores atrocidades da História, pelo fanatismo mataram-se milhões de pessoas, já houve o fanatismo religioso, o fanatismo político, ainda persistem outros fanatismos. Eu não sou fanático de nada. Prefiro amar um clube, distanciar-me qb de um partido político, viver qb numa religião. Tento estar sempre atento ao que se faz por aí. Prefiro amar a vida. E não perder tempo com ódios injustificados e construídos sob mitos... Puros mitos. 

A fronteira entre o fanatismo e ódio gratuito é tão ténue como a distância entre gritar alto e bom som que a mãe do adepto do lado tem uma vida pouco condizente com a moral e os bons costumes. É tão ténue como gritar aos sete ventos que aquela pessoa tem o fraco hábito de se lavar. É tão ténue como gritar que a esposa daquele adepto vive uma vida dupla sem ele próprio saber. É tão ténue como vociferar que aquele ou aquela vivem numa relação com outro ou outra, respectivamente. É tão ténue. Mas tão ténue. E isto não é picardia. Picardia é diferente, é rir, não é ofender, é brincar, não é magoar. A história do futebol está cheia de páginas negras. Todos temos episodicamente memórias de gente que odeia o futebol. Quem diz isto e partilha isto mais do que gostar, odeia. E quem odeia perde o tempo que podia gastar a viver, amando um clube.

Podia mandar todos os que odeiam a um sítio. Seria fazer pior que eles. Prefiro usar a técnica da psicologia invertida. Odeiem que eu continuo a gostar, odeiem que eu continuo a festejar, mandem bocas que eu continuarei a aplaudir, digam os maiores impropérios, eu preferirei sempre dar um valente grito de “GOLO!”. 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Obrigado, Amália.

"O que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica." - Amália Rodrigues.


Costumam dizer-me, "Carlos, porquê Fado? Porquê gostares de uma música acabada, velha, ultrapassada, cheia de passadismos bacocos? Porquê?". Costumo responder-lhes que gostar de Fado é mais do que gostar de um estilo musical, gostar de Fado é viver num estilo de vida, é sentir cada palavra, é perceber cada trinar de uma qualquer guitarra, é chorar, é rir, é vibrar, é emocionar e emocionar-se. Gostar de Fado é arrepiar-se com um poema, é interpretar cada palavra.

E Amália deu isso ao Fado. Deu poesia, deu a alma que lhe faltava. Cantou poetas, deu conteúdo à nossa música por excelência. Amália deu intelectualidade, imortalizou poetas, interpretou letras, sonorizou sentimentos que doutra forma ficavam nos livros. Mas cantou sem desrespeitar ninguém, tendo sempre o cuidado de mostrar como cantava as letras aos autores das mesmas. Será preciso lembrar a lista de poetas que Amália cantou? David Mourão Ferreira, Pedro Homem de Mello, Manuel Alegre, Alexandre O'Neill, José Carlos Ary dos Santos, Camões... Com Alain Oulman, Amália deu voz aos maiores poetas deste país e levou-os a todos os cantos do Mundo, através dos seus espectáculos. Ainda hoje Portugal é Amália, muito embora tenha que reconhecer que Dulce Pontes e Mariza conquistaram o seu lugar nos espaços musicais português e internacional, mas ainda não atingiram o nível da Maior. 

Apesar de ter uma voz para outras "lides", Amália nunca recusou cantar, nos anos 40 e até depois, as canções de Frederico Valério, podemos dizer que o Fado nesse tempo era menos profissional? Nada disso. Amália dava-lhe um toque sublime, dava o que as canções precisavam para serem ainda hoje trauteadas por todos nós. Cantou folclore (imagine-se). Não foi apenas fadista, foi artista.



E escreveu. Amália foi autora de um fado que hoje toda a gente canta. "Ó gente da minha terra" que Mariza sempre interpreta mas raramente se lembra de mencionar que a letra é da autoria da grande Amália. Mas escreveu mais: Lágrima, Estranha Forma de Vida, Grito, Lavava no Rio Lavava... Ler estes poemas é perceber que Amália vivia num constante sofrimento e que se alimentava do estado "triste" para continuar a viver. Amália só podia ser portuguesa. Também nós vivemos sob um "Fado" constante e somos inertes perante ele, gostamos de viver assim, somos felizes na tristeza. Até nisto, Amália é-nos semelhante.

Quem é fraco costuma usar uma mentira para tentar deitar abaixo uma carreira de mais de 50 anos. Diz-se que Amália pertenceu ao antigo regime. Só alguém que está distante da canção portuguesa é que pode dizer semelhante coisa. Quem canta em 1962 (1962!) um poema como "Abandono", nunca mas nunca pode ser acusada de ser reacionária. David Mourão Ferreira dedicou-o a todos os presos  "Por teu livre pensamento foram-te longe encerrar, tão longe que o meu lamento não te consegue alcançar. E apenas ouves o vento e apenas ouves o mar". Amália cantou-o. E cantou Ary dos Santos e Manuel Alegre. 

Portugal ainda hoje não sabe o que Amália foi. Dizer-se que foi a bandeira de um país triste, cinzento e amargurado por um regime castigador não é pouco. Amália foi a representante máxima da cultura portuguesa num tempo absolutamente inquisidor. Amália foi enorme num país fechado. E manteve-se sempre ao lado de um povo a quem dedicou a sua carreira. Ela cantou para nós e só por nós. 

Atribui-se-lhe a frase "Ser simples é complicado". É, de facto. Obrigado, Amália. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Isto das autárquicas em Viseu

Bem... parece que já passou uma eternidade.. e passou mesmo. Há muito que não escrevo.

Decidi voltar na ressaca das autárquicas. Nada melhor do que sentar e ler os números. Vamos a factos:

Almeida Henriques vence e vence bem, com larga vantagem sobre a concorrência designadamente sobre um PS que anda com muito "sono" em Viseu;

José Junqueiro é o principal derrotado da noite eleitoral de Viseu. Porquê? Simples: com um adversário mais fraco consegue a proeza de...ter apenas mais 2% dos votos para o seu partido. Incrível, não é? Não, por acaso não é nada incrível. Eu já esperava.

Dos três candidatos que tinham sido eleitos para um cargo e... decidiram voltar a Viseu quando chegou a oportunidade.. apenas Helder Amaral foi feliz, muito feliz. Elege um vereador para a Câmara, aproxima-se dos 10% (extraordinário.) e consegue ir buscar votos ao PSD... de Almeida Henriques.. É que com Ruas isto talvez não fosse possível.

CDU e Bloco ganham importância na cidade, talvez aí se veja o não crescimento significativo do Partido Socialista.

A Assembleia Municipal é claramente laranja mas um dado curioso: aqui o Bloco passa para 4ª força com 1 deputado municipal. Será que para dirigir a Câmara os viseenses não viram capacidades em Manuela Antunes?

Nota importantíssima para os votos brancos e nulos. Eu ontem comentei um artigo do Público que abordava esta temática e escrevi que das duas uma: ou os viseenses têm medo da mudança porque não vêem alternativas à esquerda ou à direita do PSD ou isto é pura e simplesmente uma forma de mostrar que as alternativas não souberam ser isso mesmo... alternativas.

Resumindo: o PSD com um candidato aparente e comprovadamente mais fraco vence.. e convence. Incrível. Isto sim é incrível. Falha brutal de alternativas.
O dado mais lamentável é este. Dirigindo-me aos candidatos de PSD, PS e CDS: com todo o respeito eu e tantos milhares de viseenses saímos de casa para eleger futuros deputados à Assembleia da República, órgão máximo da democracia portuguesa. E a possibilidade de cumprir os mandatos para que foram eleitos, não esteve nos planos? Mais uma vez isto é lamentável. Sem cores políticas, sem partidarites, mais uma vez há desrespeito pelos eleitores que elegem alguém para deputado e ao fim de dois anos toca de abandonar para concorrer a outro cargo diferente. Excelente!