segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A ingenuidade de uma criança na fraca liberdade de um país

Ouço Zeca Afonso, Grândola Vila Morena. Lembro-me de mim com 10 anos, na Escola Amarela. Era um mundo distante, não pertencia ao que vivo hoje. Literalmente naquela escola vivi num mundo à parte. Lembro-me da minha professora de História (e Geografia de Portugal), a professora Helena, que no 25 de Abril nos ensinou a história da revolução como se fosse um conto de fadas. E foi-o, de facto. A magia da mensagem que os capitães queriam mostrar parecia ainda mais bela contada pela professora Helena, e era ainda mais forte num ambiente de conto de fadas da escola onde fiz o meu 5º e 6º ano. Lembro-me de ouvirmos o "Somos Livres" e de imaginarmos que ia ser sempre assim, uma história fabulosa.


Depois crescemos. Fomos obrigados a isso. Mas na verdade não nos apetecia muito. Ok, falo por mim. Mas Zeca Afonso não podia faltar. Recordo-me de termos organizado um ciclo de conferências sobre "A vida antes de 1974". E pensávamos nós que tudo o que se fez daí para a frente foi belo, único, surpreendente, espectacular. Porque no fim de contas, bastava somar a mensagem da "Grândola" com os ideais destes capitães que padeceram na Guerra e resistiram a tudo. Ai como tudo era perfeito. Claro que questionávamos o que nos diziam. Mas a certeza com que falavam, calavam qualquer dúvida da nossa parte. Só a "Grândola" era a solução do nosso dilema.


"O povo é quem mais ordena". Sabíamos lá nós o que significava o povo. Imaginávamos que o povo era o filho do Zé Padeiro e o filho do Sr. Doutor Bancário. Como era ingénua e bela a nossa vida. Mas melhor que essa era a música cantada melancolicamente pela Ermelinda Duarte o "Somos Livres". Era lindo. Imaginar uma gaivota que voava sobre todos os que lhe queriam fazer mal, a mensagem de sermos livres de voar para todo o lado, de fugir dali, tudo nos parecia belo. Era lindo!

Depois veio a Guerra no Iraque. Aí começamos a ter medo do Mundo que nos sobrevoava: olhávamos para o Céu e parece que me estou a ouvir: "É preciso ter cuidado com os passeios na rua, é que pode cair uma bomba". Que mistério.

Acordámos de vez para o Mundo algum tempo depois quando percebemos que afinal "Não somos livres", e que Grândola, essa vila, é submissa tal como todas as vilas, cidades e aldeias deste país à beira mar plantado, às regras da cidade da couve. É que isto de sermos livres e de termos um passado em que o fomos (há quem diga que nem após 25 de Abril o fomos verdadeiramente, mas não quero ser tão pessimista), deveria ter continuidade e hoje sermos também livres. Mas era preciso que os políticos que tivémos nos continuassem a dar uma ilusão de criança de que a liberdade é de todos e que todos somos iguais. Nesse caso, já não era só a ilusão de uma criança, era a realidade de um país.


Houve quem preferisse esbanjar, tirar-nos a liberdade, hoje resta-me com os meus 20 anos, continuar a ouvir Zeca, Adriano e Vitorino, achando que "somos livres, somos livres" e que na vida "O povo é quem mais ordena". Que pena Portugal... Não me deixaste sonhar. Nem a mim nem a uma geração de pessoas que te queriam mais solidário sobretudo mais humano. Ainda assim, somos livres de escrever. Valha-nos essa liberdade. Obrigado, Abril!


Que dia mais fantástico

11-12-2011, não não é capicua, não é data de números hiper fantasticamente ligados e que antecipam algo muito prodigioso. Não é nada disso. É só e apenas: uma data muito especial para mim. Voltei a falar com uma das professoras que me fizeram ser o que sou hoje. Não é uma professora: é a professora. Tudo aquilo que exprimo hoje, a forma de dizer, a forma de escrever o devo à minha professora Maria Pires B. Rebelo. Sim, professora é a si que lhe devo o facto de me corrigir as vírgulas e a forma apressada e revoltada como escrevia ou inversamente a imensa imaginação utópica própria da idade. Se escrevo assim é a si que lhe devo. Não digo que escrevo bem. Nunca o disse. Nem acho. Mas se escrevo pouco, quando me deu aulas, não tinha esta capacidade de pôr as palavras naquele sítio e não no outro. Aprendi consigo a dar valor às palavras. Cada palavra é um discurso. Cada vírgula é um aspecto crucial num texto.

Aprendi a valorizar tudo na língua portuguesa. Mas não aprendi só a escrever consigo. Aprendi a ser melhor pessoa. Amigos do facebook, imaginem-me com 10 anos (sim, bastante mais reguila, chato, mas tãaaaaaao chato), assim era eu. Foi a professora Maria, a minha querida mãe e mais uma meia dúzia de pessoas que me ajudaram a ser quem sou hoje: um pouco mais equilibrado (totalmente equilibrado não sou nem quero ser), a moderar a rebeldia, e a ser melhor pessoa, a valorizar os outros de outra forma, a acreditar mais em mim, a não achar que sou o maior da "trupe", hoje sou melhor. E se não melhorei, então nesse caso como diz o outro: "Não é defeito, é feitio". A professora Maria ajudou-me a crescer. E devo-lhe muito. Até a gostar de ler. Toda a gente ficava muito admirada da minha forma de escrever... eu não gostava nada de ler. Aprendi a gostar. Neste caminho que percorro devo muito à professora Maria. E aqui publicamente lhe presto a minha homenagem. E porque a palavra "Obrigado" já diz tanto, digo-lhe um simples mas sinceríssimo: Obrigado! :)